terça-feira, 20 de setembro de 2011

Dente-de-leão - Um pouco da sua história

Dente-de-leão: As flores são liguladas e formam
um capítulo solitário, o pedúnculo é oco
Areosa / Viana do Castelo (Fevereiro de 2007)

Planta de flores amarelas completamente banal, feinha, confundindo-se, para quem não a conhece, com tantas outras que se lhe assemelham mas não o são, inconfundível e bela para quem a observa, o Dente-de-leão tem uma vasta distribuição por todo o mundo, e é uma verdadeira relíquia entre a flora medicinal. Versátil, muito útil e popular, é uma excelente planta para iniciar um tratamento, já que se trata de um dos mais eficazes desintoxicantes em botânica medicinal. Mas as suas virtudes não se ficam por aqui!

                                          O dente-de-leão
                                          Se pensas que eles são
                                          imóveis como as pedras,
                                          estás muito enganado.
                                          Olha um dente-de-leão,
                                          a aterrar de pára-quedas,
                                          acolá naquele prado!
                                                             Poema de Jorge Sousa Braga, em Herbário, Assírio & Alvim, Setembro 2009

Um pouco da sua história
O Dente-de-leão é uma planta nativa do hemisfério Norte, aclimatada na América do Sul, sendo espontânea em Portugal. Encontra-se com frequência em lugares húmidos, espaços arrelvados, jardins, campos cultivados, prados, hortas, terrenos baldios, beira dos caminhos e até entre as pedras das calçadas nas cidades.
É também conhecido por Taráxaco, Taraxaco, Coroa-de-monge, Amor-dos-homens, O-teu-pai-é-careca, Serralha, Frango, Quartilho, Bufas-de-lobo, tendo como nome botânico Taraxacum officinale Weber ex Wiggers (= Leontodon officinale With. = Leontodon taraxacum L. = Taraxacum officinale (With.) Wigg. = Taraxacum dens leonis Desf. = Taraxacum vulgare Schrank). Pertence à família das Asteraceae (Compositae).

Dente-de-leão, cabeça de sementes
Melgaço (Abril 2007)

O seu nome botânico, Taraxacum, deriva do árabe, tarakshaqum, que significa erva amarga. O nome popular Dente-de-leão parece ter origem no aspecto da planta: as suas folhas são profundamente dentadas e as flores amarelas assemelham-se a uma juba de leão. Quando se formam as sementes, surge uma penugem que voa facilmente com um sopro, expondo algo semelhante a uma cabeça rapada, o que explica a origem de um outro nome popular, Coroa-de-monge.
Se para a planta o facto das sementes serem dispersas facilmente pelo vento facilita a sua disseminação, para as pessoas constitui um motivo para inúmeras tradições, sempre relacionadas com o acto de soprar. O-teu-pai-é-careca, para além de ser um outro nome pelo qual é conhecida, é também um jogo infantil que nos diz se o pai da criança a quem se faz esta pergunta é careca ou não. Consultando-a como um oráculo podemos ficar a saber quantos anos faltam para o casamento de alguém, se o casamento vai ser feliz, quantos filhos vai ter, quantos mais anos vai viver, etc. Consultando-a como um barómetro podemos ainda ficar a saber se vai chover. Para tudo isto basta apenas soprar. E interpretar os resultados, claro!
Em francês é conhecida pelo curioso nome de Pissenlit que, para quem não sabe, significa literalmente urinar na cama, numa alusão à sua actividade diurética.

A utilização medicinal do Dente-de-leão é muito antiga. O uso das folhas, como diurético, é muito anterior ao das raízes, boas para o fígado. Muito elogiado pelos antigos médicos árabes Rhazes e Avicena, nos séculos X e XI, foi também recomendado no herbário da escola de Myddfai, no País de Gales, no século XIII e referido em todos os bons tratados de botânica médica da Idade Média. No século XVI, Bock, importante botânico alemão, considerava-o um diurético, e Tabernaemontanus, médico e naturalista alemão, seu discípulo, considerava-o um vulnerário. Posteriormente o seu prestígio como erva medicinal parece ter decaído, mas no início do século XX o reconhecimento das suas propriedades medicinais foi tal que qualquer tratamento em que era utilizado se chamava taraxoterapia.

As flores de Dente-de-leão são melíferas
e as folhas são aprecidas pelos herbívoros
CM 1159 - Daroeiras / Entrada da Barca,
Odemira (Fevereiro de 2006)

O Dente-de-leão é também usado como alimento. As folhas tenras, colhidas na Primavera, são muito nutritivas e boas para saladas. Com elas pode-se fazer sopa e, depois de cozidas e reduzidas a puré, servem de acompanhamento. Os botões florais também são comestíveis e podem ser cozinhados como a Alcaparra.
As raízes de plantas com 2 ou 3 anos, secas, moídas e tostadas são utilizadas em substituição do café - à semelhança da Chicória-, beneficiando o fígado e a vesícula, aumentando a vitalidade e melhorando a concentração mental.
As flores são usadas para fazer vinho e bebidas alcoólicas fortes.
O Dente-de-leão encontra-se registado como aromatizante natural no Conselho Europeu.

Dente-de-leão, raízes e folhas

O Dente-de-leão cresce um pouco por todo o lado, ao longo de todo o ano
As suas folhas são em roseta basilar
R. Manuel Fiuza Júnior, Viana do Castelo (Janeiro 2008)

Parte utilizada
Raízes e folhas (partes aéreas), secas ou frescas (mais activas). As raízes deverão ser de plantas com dois ou três anos. O látex também é usado.


Composição
Em fitoterapia, os efeitos terapêuticos de uma planta resultam da sinergia dos seus constituintes. No entanto, a investigação realça os constituintes amargos (lactonas sesquiterpénicas, taraxacósido), compostos fenólicos (flavonóides e ácidos fenólicos), triterpenos e esteróis (fitosteróis e carotenóides), inulina e mucilagem, e potássio. São ainda de referir a pectina, os ácidos gordos (linoleico, linolénico, oleico e palmítico), aminoácidos (asparagina, tirosina), vitaminas (A, B1, B2, colina, C, D) e outros sais minerais (cálcio, ferro, silício, magnésio, sódio, zinco, manganésio, cobre, fósforo).

As raízes apresentam maior quantidade de constituintes amargos do que as folhas. As folhas são mais ricas em sais minerais do que as raízes.

Acções medicinais
Uso interno
Planta metabólica, actua em todo o aparelho digestivo e suas glândulas, estimulando e melhorando todo o metabolismo. Amarga, estimula a secreção de saliva e de suco gástrico, aumentando o apetite e favorecendo a digestão (tónico amargo digestivo). Colerética e colagoga, estimula a secreção de bílis pelo fígado e a sua evacuação da vesícula biliar para o duodeno, favorecendo a digestão das gorduras. Desintoxica, descongestiona e tonifica o fígado. Previne e facilita a dissolução de cálculos na vesícula biliar. Favorece o pâncreas endócrino, estabilizando os níveis de açúcar no sangue e prevenindo as suas flutuações. Depurativa, tem acção diurética, laxativa e sudorífica. A actividade diurética é dependente da dose, comparável a furosemida (Lasix), e ocorre sem perda de potássio. Ao aumentar a eliminação de líquidos contribui ainda para a perda de peso. Desintoxica e tonifica os rins. Previne e facilita a dissolução de cálculos renais e vesicais. Anti-reumática. Anti-inflamatória e protectora do tecido conjuntivo. Febrífuga e antiescorbútica.
As raízes têm maior actividade sobre o fígado e vesícula e as folhas como diurético.
Uso externo
Protectora, suavizante e estimulante sobre o tecido cutâneo.


Indicações terapêuticas
Uso interno
Como aperitivo na perda de apetite e anorexia. Como digestivo na dispepsia (enfartamento, flatulência, digestões lentas). Afecções hepáticas (sensibilidade à comida, mau funcionamento do fígado, fígado gordo, icterícia, hepatite, congestão hepática, insuficiência hepática). Afecções da vesícula e canais biliares (inflamação da vesícula e/ou das vias biliares, cálculos na vesícula, alterações do fluxo biliar). Excesso de colesterol, hemorróidas. Diabetes. Na desintoxicação geral do organismo, quando há infecções recorrentes, alergias, e especialmente, em tratamentos de fundo nas afecções da pele (acne, furúnculos, eczema, psoríase). Como diurético (limpeza das vias urinárias, edemas, hidropesia, prostatismo, obesidade acompanhada de retenção de líquidos, síndrome pré-menstrual, hipertensão arterial, insuficiência cardíaca, gota). Afecções dos rins, bexiga e vias urinárias (cálculos renais e vesicais, infecções urinárias, sífilis). Reumatismo. Obstipação. Como anti-inflamatório na colite, aliviando a dor, obstipação e diarreia.
Uso externo
Como suavizante da pele, para eliminar pontos negros e nas peles envelhecidas. Na remoção de calos e verrugas.


Pormenor das folhas de Dente-de-leão
Melgaço (Abril 2007)

Como tomar
Uso interno

Cozimento das raízes e/ou folhas: 1 a 2 colheres de chá por chávena de água, 3 minutos de fervura. Tomar 3 chávenas por dia, antes das refeições. Esta tisana pode ser precedida de uma maceração de 15 a 30 minutos.
Infusão das raízes e/ou folhas: 1 a 2 colheres de chá por chávena de água fervente, 10 minutos de infusão. Tomar 3 chávenas por dia, antes das refeições.
Fazer tratamentos durante pelo menos quatro a seis semanas. Em tratamentos prolongados podem fazer-se 9 dias de tratamento seguidos de três dias de descanso.
Como aperitivo e como digestivo deve ser tomado na forma de tisana pois a sua acção deve-se ao sabor amargo que apresenta.
Como depurativo do sangue, na drenagem das vias urinárias e na sífilis pode ser associado à Chicória.
Nas afecções da pele pode ser associado à Bardana e à Equinácea.
Suco das folhas frescas: Tomar 2 a 3 colheres de sopa, uma vez por dia, durante 2 a 3 semanas. Para a extracção do suco, borrifar as folhas. O suco pode ser diluído em água.
Uso externo
Cozimento das raízes: 200 gramas por litro de água. Em banhos, lavagens e compressas.
Látex: Aplicar topicamente a parte inferior do talo da flor. Na remoção de calos e verrugas.

Receita: Salada com folhas de Dente-de-leão
           Folhas de Dente-de-leão
           Pétalas de Calêndula
           Flores de Borragem
Depois de lavar, colocar as folhas numa saladeira e enfeitar com as flores e as pétalas. Temperar a gosto.
Indicações: Na desintoxicação geral do organismo (cura primaveril).

Precauções
O Dente-de-leão é considerado de muito baixa toxicidade, podendo ser utilizado em tratamentos prolongados. No entanto, não se recomenda durante a gravidez e o aleitamento.
Contra-indicado na obstrução das vias biliares, sobretudo as raízes.
Pode causar hiperacidez e azia em pessoas sensíveis, devido ao seu conteúdo em constituintes amargos. Este efeito pode ser atenuado associando-se Alteia.
Pode provocar reacções alérgicas de contacto.
Devido à acção diurética, especialmente no caso das folhas, deve ter-se em atenção que pode causar descompensações em pessoas que tomam cardiotónicos ou sejam hipertensas.



Dente-de-leão, CM 1159 - Daroeiras / Entrada da Barca, Odemira (Fevereiro de 2006)

Observações
Em fitoterapia chinesa é utilizada uma planta aparentada, Pu Gong Ying, Taraxacum mongolicum, para eliminar calor e reduzir a toxicidade, sobretudo do fígado.

Sobre o Dente-de-leão, Taraxacum officinale Weber ex Wiggers, são ainda de referir as monografias da OMS (World Health Organization), planta inteira, ESCOP (European Scientific Cooperative on Phythoterapy), raízes e folhas, e Comissão E Alemã (da German Federal Office for Phytotherapeutic Substance), raízes e folhas.
É também utilizado em Homeopatia e em Terapia Floral (Florais da Califórnia).

Este blogue apenas pretende sensibilizar para a observação das plantas medicinais e divulgar a sua utilização, não tendo a intenção de promover a auto-medicação nem a colheita de espécies.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Castanheiro-da-Índia - Um pouco da sua história

Castanheiro-da-Índia, Melgaço (Abril 2007)

 
Muito cultivado como planta ornamental, o Castanheiro-da-Índia embeleza as nossas cidades e vilas, onde o podemos observar em jardins, parques ou muito simplesmente ladeando ruas e avenidas.


Um pouco da sua história
Pertencente à família das Hippocastanaceae, o Castanheiro-da-Índia, Castanheiro-de-cavalo ou Falso-Castanheiro como também é referido, tem como nome botânico Aesculus hippocastanum L. (= Aesculus castanea Gilib. = Aesculus procera Salisb. = Castanea equinaHippocastanum vulgares Gaertner).
Nativo não da Índia mas dos bosques das montanhas do Sudeste da Europa (Balcãs e Cáucaso) e Ásia Menor, o Castanheiro-da-Índia foi importado de Constantinopla e introduzido em França no século XVII. Ao longo do século XVIII difundiu-se como planta ornamental por toda a Europa, onde alguns exemplares contam já com 250 anos de vida. Actualmente, encontra-se cultivado nas regiões temperadas de todo o mundo.
Trata-se de uma árvore de grande porte, que pode atingir os 25 m de altura e os 2000 anos de idade. As inflorescências apresentam flores brancas ou rosadas, muitas vezes salpicadas de amarelo, vermelho ou castanho, e, por serem muito odoríferas, são muito procuradas pelas abelhas.

O seu nome vernáculo, Castanheiro-de-cavalo (hippocastanum), deriva do facto de os turcos utilizarem as suas castanhas para tratar os cavalos com problemas respiratórios, o que, segundo os ervanários europeus, era muito útil.
As Castanhas-da-Índia podem ainda ser utilizadas para vários outros fins. Delas se extrai um óleo para iluminação, produz-se cola, sabão, ou um repelente para traças e outros insectos. Também se usam para afastar as minhocas dos vasos de flores. Não sendo comestíveis devido ao seu intenso sabor amargo (tóxico), são ricas em amido e apreciadas por cabras, porcos e alguns peixes.
A sua madeira é muito utilizada em marcenaria.

Pormenor das flores de Castanheiro-da-Índia, em forma de cone (panículas)
Est. de Sta. Luzia, Viana do Castelo (Abril 2007)

O Castanheiro-da-Índia foi registado documentalmente como planta medicinal em 1565, por Pier Andrea Mattioli, médico e botânico italiano do século XVI, na tradução da obra De Materia Medica de Dioscórides.
No início do século XVIII as suas sementes eram já utilizadas com fins terapêuticos em França. Após a investigação sistemática das suas propriedades curativas, foram publicados diversos trabalhos franceses entre 1896 e 1909, que relatam os bons resultados obtidos no tratamento das hemorróidas. As cascas também eram muito usadas como adstringente para o mesmo fim. E, para uso tópico no reumatismo, era extraído um óleo das sementes.
As folhas eram utilizadas para combater a tosse.

sábado, 9 de julho de 2011

Castanheiro-da-Índia, sementes

Os frutos de Castanheiro-da-Índia são verdes e espinhosos,
e contêm no máximo 3 sementes
Est. de Sta. Luzia, Viana do Castelo (Maio 2007)


Parte utilizada
Sementes. Actualmente utilizam-se sobretudo as sementes (Castanha-da-Índia), por possuírem teores mais elevados de saponósidos. Também têm sido utilizadas as cascas dos ramos novos, as folhas e as flores, embora a sua eficácia não esteja devidamente comprovada.

Composição
Em fitoterapia, os efeitos terapêuticos de uma planta resultam da sinergia dos seus constituintes. No entanto, a investigação realça os saponósidos triterpénicos (escina) e os heterósidos hidroxicumarínicos (esculósido). São ainda de referir os flavonóides, taninos, proantocianidinas, pectina, mucilagem, óleo gordo, amido em grande quantidade (40 a 50%), vitaminas B1 e K.

Acções medicinais
Uso interno
Adstringente, contrai os tecidos, os capilares e os orifícios, diminuindo as secreções das mucosas. Hemostática, detém as hemorragias favorecendo a coagulação do sangue. Vasoconstritora e venotónica, contrai os vasos sanguíneos e melhora a elasticidade e tonicidade das paredes venosas. Actua sobre os vasos do endométrio. Aumenta a resistência dos capilares e diminui a sua permeabilidade e fragilidade (acção vitamínica P). Contribui para a reabsorção dos edemas, reduzindo o inchaço (antiedematosa). Anti-inflamatória, actua na fase inicial da inflamação, inibindo a produção endógena de prostaglandinas inflamatórias e combatendo a formação do edema (antiexsudativa). Antitrombótica. Antioxidante.
Uso externo
Adstringente. Vasoconstritora e venotónica. Acção vitamínica P. Antiedematosa. Anti-inflamatória, antiexsudativa. Antitrombótica. Antioxidante e protectora solar. Ao beneficiar a circulação venosa e a circulação local, tem uma acção estimulante sobre as peles envelhecidas, tonificando e melhorando a elasticidade do tecido cutâneo, e inibindo a progressão de rugas, estrias e olheiras.
A farinha das sementes obtida por moagem torna a pele mais brilhante.

Indicações terapêuticas
Uso interno
Insuficiência venosa crónica dos membros inferiores (edema, dor, sensação de peso, fadiga ou tensão nas pernas, cãibras nocturnas nas barrigas das pernas, prurido) e outras afecções do sistema circulatório (flebites, varizes, hemorróidas, úlceras varicosas, tromboses, fragilidade capilar, frieiras). Pode ter um efeito preventivo ajudando a reduzir os riscos de flebites, por exemplo, em voos de longo curso. Na hemoptise e para reduzir o fluxo menstrual abundante. Hipertrofia da próstata.
Uso externo
Insuficiência venosa crónica dos membros inferiores e outras afecções do sistema circulatório. Celulite. Acne-rosácea. Feridas, cortes e arranhadelas. Dores musculares, nevralgias, lesões desportivas (tendinites, luxações). Peles sensíveis e peles envelhecidas (rugas, estrias, olheiras). Em bronzeadores e nas queimaduras solares.


Pormenor dos frutos de Castanheiro-da-Índia
Odemira (Julho 2006)

Como tomar
Uso interno
Normalmente, a Castanha-da-Índia não é utilizada em tisana mas sim em extractos (gotas, tónicos, cápsulas, comprimidos, etc.). É frequentemente associada a outras plantas de forma a potenciar a sua acção.
Na insuficiência venosa crónica o tratamento é seguro e eficaz, no entanto, por ser demorado deve ser feito durante vários meses para se obterem resultados visíveis. Pode ser associada à Gilbardeira, Hamamélia e Arnica, entre outras plantas. Pode ser benéfico associar outras medidas não invasivas como a compressão elástica (meias de descanso) ou tratamentos com água fria.
Na hipertrofia da próstata pode ser associada à Vara-de-ouro e às Malvas.
Os tratamentos prolongam-se por 3 meses, não devendo exceder os 6 meses.
Uso externo
Pode ser utilizada na forma de cozimento. No entanto, actualmente é mais utilizada em extractos (cremes, geles, bálsamos, etc.). É frequentemente associada a outras plantas de forma a potenciar a sua acção.
Na insuficiência venosa crónica e outras afecções do sistema circulatório a utilização tópica da planta é adjuvante do seu uso interno, pois é este que garante os níveis terapêuticos mais elevados da planta no organismo.

Receita: Emplastro de Castanhas-da-Índia
          q.b. Castanhas-da-Índia, consoante a área a tratar
Cozem-se as Castanhas-da-Índia num pouco de água durante 30 minutos. Retiram-se da água, descascam-se, esmagam-se e deixam-se arrefecer.
Indicações: Nas frieiras: aplicar topicamente e tapar com um penso, de preferência à noite.

Precauções
Não são conhecidas contra-indicações da utilização terapêutica da Castanha-da-Índia. No entanto deve evitar-se durante a gravidez, aleitamento e em crianças com idade inferior a 10 anos.
Deve ter-se em atenção que pode potenciar a medicação anticoagulante (devido aos heterósidos hidroxicumarínicos).
Os efeitos secundários são ligeiros e pouco frequentes. Devido aos taninos e aos saponósidos, pode causar alguma irritação no tracto gastrintestinal, náuseas ou desconforto gástrico, que desaparece em formas galénicas de libertação controlada. Foram ainda referidos prurido, dores de cabeça e vertigens.
Quando colhidas, as Castanhas-da-Índia não devem ser ingeridas por apresentarem uma certa toxicidade (que se manifesta através de náuseas violentas), sobretudo se não estiverem completamente maduras.
Formulações muito concentradas ou a utilização continuada da planta aumentam os riscos de sensibilização alérgica (eczema de contacto), nomeadamente em peles sensíveis.

Observações
São de referir as monografias da OMS (World Health Organization), sementes maduras secas de Aesculus hippocastanum L., ESCOP (European Scientific Cooperative on Phythoterapy) e Comissão E Alemã (da German Federal Office for Phytotherapeutic Substance).
O Castanheiro-da-Índia, bem como o Castanheiro-da-Índia-de-flores-vermelhas, Aesculus x carnea Hayne, são utilizados em Terapia Floral (Florais de Bach).

Pormenor das flores de Castanheiro-da-Índia-de-flores-vermelhas
Praça 1º de Maio, Viana do Castelo (Abril 2007)

Este blogue apenas pretende sensibilizar para a observação das plantas medicinais e divulgar a sua utilização, não tendo a intenção de promover a auto-medicação nem a colheita de espécies.

Castanheiro-da-Índia, cascas

Pormenor dos ramos jovens de Castanheiro-da-Índia
Praça 1º de Maio, Viana do Castelo (Fevereiro 2011)


Parte utilizada
Cascas secas dos ramos novos (2 a 3 anos).

Composição
Saponósidos triterpénicos (escina), heterósidos hidroxicumarínicos (esculósido), flavonóides, taninos, leucoantocianósidos, oligossacáridos, fitosteróis.

Acções medicinais
Adstringente, contrai os tecidos, os capilares e os orifícios, diminuindo as secreções das mucosas. Hemostática, detém as hemorragias favorecendo a coagulação do sangue. Vasoconstritora e venotónica, contrai os vasos sanguíneos e melhora a elasticidade e tonicidade das paredes venosas. Actua sobre os vasos do endométrio. Aumenta a resistência dos capilares e diminui a sua permeabilidade e fragilidade (acção vitamínica P). Contribui para a reabsorção dos edemas, reduzindo o inchaço (antiedematosa). Anti-inflamatória, actua na fase inicial da inflamação, inibindo a produção endógena de prostaglandinas inflamatórias e combatendo a formação do edema (antiexsudativa). Antitrombótica. Antioxidante e protectora solar.

Indicações terapêuticas
Uso interno
Sobretudo nas diarreias e inflamações da boca e faringe. Insuficiência venosa crónica dos membros inferiores (edema, dor, sensação de peso, fadiga ou tensão nas pernas, cãibras nocturnas nas barrigas das pernas, prurido) e outras afecções do sistema circulatório (flebites, varizes, hemorróidas, úlceras varicosas, tromboses, frieiras). Hemorragias. Dismenorreia e irregularidades na menstruação. Hipertrofia da próstata.
Uso externo
Insuficiência venosa crónica dos membros inferiores e outras afecções do sistema circulatório. Feridas, cortes e arranhadelas. Dores musculares e nevralgias. Em bronzeadores e nas queimaduras solares.

Como tomar
Uso interno
Cozimento: 2 colheres de chá por chávena de água, 1 minuto de fervura, 10 minutos de infusão. Tomar 2 a 3 chávenas por dia, fora das refeições.
Uso externo
Cozimento: 50 gramas por litro de água. Em banhos. Para melhorar a elasticidade e tonicidade das paredes venosas.

Precauções
Utilizar apenas a casca dos ramos novos, a casca mais velha apresenta uma certa toxicidade.
Ter em atenção o que foi referido para as sementes.

Observações
As cascas secas das raízes também apresentam valor terapêutico (como febrífuga).
Das cascas da árvore obtém-se uma tinta vermelha.

Pormenor das cascas do tronco de Castanheiro-da-Índia,
escuras externamente e avermelhadas no seu interior
Melgaço (Abril 2007)

Este blogue apenas pretende sensibilizar para a observação das plantas medicinais e divulgar a sua utilização, não tendo a intenção de promover a auto-medicação nem a colheita de espécies.

Castanheiro-da-Índia, folhas


Pormenor das folhas de Castanheiro-da-Índia,
palmadas e com 5 a 7 folíolos
Praça 1º de Maio, Viana do Castelo (Abril 2011)

Parte utilizada
Folhas.

Composição
Heterósidos hidroxicumarínicos (esculósido), flavonóides, taninos, leucoantocianósidos, fitosteróis. Vestígios de saponósidos triterpénicos (escina).

Acções medicinais
Uso interno
Adstringente, contrai os tecidos, os capilares e os orifícios, diminuindo as secreções das mucosas.
Uso externo
Adstringente. Venotónica, melhora a elasticidade e tonicidade das paredes venosas. Ao beneficiar a circulação venosa e a circulação local, tem uma acção estimulante sobre as peles envelhecidas, tonificando e melhorando a elasticidade do tecido cutâneo, e inibindo a progressão de rugas, estrias e olheiras.

Indicações terapêuticas
Uso interno
Diarreias e inflamações da boca e garganta.
Uso externo
Afecções do sistema circulatório (flebites, varizes). Edemas. Acne-rosácea e eczemas. Peles sensíveis e peles envelhecidas (rugas, estrias, olheiras). Para tonificar e melhorar a elasticidade da pele.

O cozimento das folhas de Castanheiro-da-Índia
já foi utilizado no tratamento da tosse convulsa
Melgaço (Abril 2007)

Como tomar
Uso interno
Infusão: 2 colheres de chá por chávena de água fervente. Tomar 2 a 3 chávenas por dia.
Uso externo
Cozimento: 200 gramas por litro de água. Em banhos. Para tonificar e melhorar a elasticidade da pele.

Precauções
Ter em atenção o que foi referido para as sementes.


Este blogue apenas pretende sensibilizar para a observação das plantas medicinais e divulgar a sua utilização, não tendo a intenção de promover a auto-medicação nem a colheita de espécies.

terça-feira, 31 de maio de 2011

A rainha do pátio, de António Torrado


Tília num terraço
Av. Conde Carreira, Viana do Castelo (Abril 2011)

Não será muito vistosa a história que vou contar. Nem todas as histórias podem exibir, para regalo de quem as lê, o mesmo aparato de aventuras, umas a seguir às outras, como uma caixinha de mágicas donde saem fieiras de lenços multicolores, pombas que voam e coelhos que saltam. Há também as histórias simples que parece não terem nada para contar. Nascem sem porquê e vão crescendo, devagarinho, como uma árvore - exactamente como uma árvore -, que se abre em ramos que ninguém viu despontar. Uma vez acabadas, estas histórias oferecem uma sombra fresca, uma pausa de sossego a quem delas se aproximou. São histórias pouco ambiciosas.
Esta contou-me o Filipe, um amigo meu que vive numa casinha modesta, de um só piso, com uma janela virada para um pátio de calcetado irregular, pátio que tem, no meio, uma árvore grande. Outras janelas de outras casas iguais olham para o pátio onde reina, única e grande, a árvore de ramos firmes, logo coberta de folhinhas novas ao primeiro bafo da Primavera.

- Há mais de trinta anos que conheço estes sítios - disse-me o Filipe, debruçado da sua janela. - Nasci aqui. Neste pátio, dei os primeiros passos. Foi nestas pedras que, pela primeira vez, esfolei os joelhos. Não chegam os automóveis a este pátio. As únicas rodas que conheceu foram as da bicicleta do vizinho Júlio, um que trabalhava na construção. Às vezes, quando estava mais de maré, o que raramente acontecia, emprestava a máquina à rapaziada. Tanto trambolhão.
É um pátio de gente pobre, quase um beco, com tanques de lavar a roupa à beira de cada porta, um chafariz e janelas que a gente nem chega a perceber se dão do pátio para as casas ou das casas para o pátio. Este pátio, fique o meu amigo sabendo, vale por um livro aberto, onde qualquer pessoa que o conheça de perto pode ler histórias, um nunca acabar de histórias para todos os gostos. Vê aquela árvore? Pois tem uma história que merece a pena ouvir. Ninguém melhor do que eu, que acompanhei todos os passos da sua vida, lha poderia contar. Ora escute.
Há cerca de trinta anos, era eu um garoto, com os cotovelos apoiados no parapeito desta mesma janela, a olhar para a paisagem sempre igual e triste do pátio, quando reparei por acaso numa haste que despontava da terra, numa falha do empedrado. Erva daninha e rasteira é o que mais há, neste pátio. Uma autêntica praga. Se não nos acautelamos, até as urtigas são capazes de nos entrar em casa...
Mas aquela haste, que segurava umas folhinhas trémulas, não se parecia nada com as verduras atrevidas que infestavam a área. Desci à rua e fui ver de perto. Era um arbusto ou, para sermos precisos, uma árvore-bebé, mal saída do berço. Fiquei espantado e enternecido.
Como teria germinado a semente, por que milagre, naquele solo pobre, conseguira fixar-se a raiz, a romper a terra, em busca de luz, e espigar o tronco tenro da arvorezinha? Ainda que débil, a minha descoberta e, desde então, minha protegida, mostrava-se muito disposta a não se deixar vencer.
Tudo estava contra ela. A luz não era abundante, as pedras em volta ameaçavam estrangular-lhe o crescimento... e as pessoas andavam e andam sempre apressadas, com a cabeça no ar e bem longe do que se passa rente ao chão que pisam. Calculem qual não foi o meu pavor quando, dias depois, dei com a minha mãe e uma vizinha a espalharem sal sobre as pedras, mesmo junto à minha árvore.
- Gasta-se um bocado de sal, mas não há outro remédio para nos vermos livres, por uns tempos, destas malditas ervas - dizia a vizinha.
Custou-me a convencê-las... O meu principal argumento, em favor da árvore, foi o de que ela acabaria por não conseguir sobreviver.
Afinal, sempre conseguiu. Tive de avisar os meus amigos e de lhes pedir que não corressem naquele sítio. A princípio não me deram ouvidos, mas depois acabaram por se tornar meus aliados. Criámos uma ordem ou clube dos protectores da árvore e construímos uma pequena palissada à volta da nossa protegida. O Arlindo chegou mesmo a escrever, num letreiro espetado num pau, os seguintes dizeres:

CUIDADO COM A ÁRVORE.
PERIGO DE MORTE.

Perigo de morte para a árvore, claro.
Veio o Inverno e todos nós, os do pátio, receámos pela arvorezinha. A haste sem folhas parecia ter secado. Para a abrigar das grandes bátegas de água e do granizo de Janeiro, improvisámos, com uma armação de arame e o chapéu-de-chuva velho do meu pai, um toldo protector. Fazíamos isto com mil cuidados embora, intimamente, cada um de nós já não acreditasse que fosse possível salvá-la.
Imagine a minha alegria ao ver-lhe uma folhinha verde, quase branca, a apontar o céu limpo de Março. Acredite ao não, houve festa no nosso pátio.
O fim da história já a sabe o meu amigo. Está ali, alta, frondosa, uma força de vontade em forma de tronco. Fomos nós a protegê-la; é agora ela que nos protege. Oferece-nos a sua sombra, alinda-nos o pátio... É a nossa rainha, o nosso parque, o nosso jardim, a nossa vaidade e é ela a primeira a avisar-nos quando chega a Primavera.

Texto de António Torrado, em A escada de caracol, Edições ASA, Setembro de 2007

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Papoila-da-Califórnia

Flores solitárias de Papoila-da-Califórnia
Jardim da Marginal, Viana do Castelo (Março 2011)

De cor viva alaranjada, amarela e até rosa, muito vistosas e ornamentais, quem repara nelas num jardim pode nem suspeitar do seu valor medicinal.
Da mesma família da Papoila-branca (Papoila-dormideira ou Papoila-do-ópio), Papaver somniferum L., a Papoila-da-Califórnia contém um látex que exerce uma acção sobre o sistema nervoso central bastante diferente: não produz um efeito narcótico nem aditivo, mas sim uma acção sedativa suave e regularizadora. Muito utilizada em fórmulas ou em simples, é considerada uma planta segura e eficaz, sendo uma opção adequada para as afecções físicas e psicológicas das crianças.

Pormenor das folhas recortadas de Papoila-da-Califórnia
Jardim da Marginal, Viana do Castelo (Março 2011)

Um pouco da sua história
A Papoila-da-Califórnia, também conhecida por Escholtzia, tem como nome botânico Eschscholzia californica Cham. (um nome dado a algumas confusões ortográficas!) e pertence à família das Papaveraceae. É espontânea no Oeste da América do Norte, nomeadamente no Estado da Califórnia como nos sugere o nome, onde cobre vastas extensões de amarelo na proximidade das florestas proporcionando uma bonita paisagem. Pelo facto de ser muito ornamental, é cultivada em várias regiões do mundo, nomeadamente na Europa, África do Sul, Austrália, Chile e Argentina. Em Portugal, surge com frequência nos jardins.

O seu nome foi-lhe atribuído no séc. XIX, em homenagem aos dois botânicos alemães que a classificaram após uma expedição à Califórnia: Johann Friedrich von Eschscholtz e Adelbert von Chamisso (Cham. é a abreviatura padrão do seu nome).

Medicinalmente, a Papoila-da-Califórnia começou por ser utilizada pelos índios norte-americanos, que a usavam pelas suas propriedades sedativas, e como analgésico para aliviar dores de dentes, dores de cabeça e cólicas gastrintestinais. As suas folhas cozidas eram ainda utilizadas na alimentação, e o seu pólen como cosmético.
Actualmente, continua a ser uma planta muito utilizada como sedativo e analgésico.

Papoila-da-Califórnia, Praça 1º de Maio, Viana do Castelo (Abril 2011)

Parte utilizada
Partes aéreas floridas.

Composição
Em fitoterapia, os efeitos terapêuticos de uma planta resultam da sinergia dos seus constituintes. No entanto, a investigação realça os alcalóides (californidina, sanguinarina) e os glicósidos de flavonóides (rutósido). São ainda de referir os ácidos orgânicos e corantes.

A planta fresca contém compostos cianogénicos.

Acções medicinais
Sedativa e ansiolítica. Hipnótica, induz o sono, diminuindo o seu tempo de latência, melhorando a sua qualidade e permitindo um acordar normal, não produzindo tolerância, dependência ou outros efeitos adversos como os barbitúricos de síntese. Relaxante. Antiespasmódica, analgésica e antinevrálgica.

Indicações terapêuticas
Ansiedade, agitação nervosa, hiperactividade das crianças. Emotividade, angústia, melancolia, depressão. Tensão nervosa, irritabilidade. Perturbações psicossomáticas associadas ao stress (dores musculares, hipertensão arterial, arritmias cardíacas). Neurastenia. Perturbações do sono (insónias, pesadelos). Enurese nocturna. Dores de cabeça, enxaquecas, dores e espasmos gastrintestinais das crianças. Nevralgias.

Como tomar
Infusão: 1 colher de chá por chávena de água fervente. Tomar 1 a 2 chávenas por dia.
Fazer tratamentos intercalados com períodos de descanso.
A Papoila-da-Califórnia é frequentemente associada a outras plantas sedativas (Valeriana, Hipericão, Passiflora, Erva-cidreira), potenciando os seus resultados.


Precauções
Planta segura nas doses habitualmente recomendadas, sem efeitos secundários ou risco de habituação.

Contra-indicada em pessoas com glaucoma, não deve igualmente ser utilizada durante a gravidez, aleitamento ou em crianças menores que 6 anos.
Não deve ser utilizada em simultâneo com benzodiazepinas ou anti-histamínicos. As bebidas alcoólicas devem ser evitadas durante o tratamento.
A posologia deve ser respeitada, doses elevadas podem ser causa de intoxicação.


Papoila-da-Califórnia, Odemira (Abril 2006)

Observações
A Papoila-da-Califórnia é uma importante planta utilizada em medicina popular e em fitoterapia; a sua acção ansiolítica e antiespasmódica foram já verificadas em animais; os estudos farmacológicos apoiam a sua utilização como sedativo e ansiolítico. No entanto, não existem estudos que comprovem, de forma evidente, a sua eficácia clínica. Por este motivo, a Comissão E (da German Federal Office for Phytotherapeutic Substance) não aprovou a sua utilização. Talvez também pelo mesmo motivo, a sua monografia não esteja inscrita na Farmacopeia Portuguesa, nem seja referida pela OMS (World Health Organization) e pela ESCOP (European Scientific Cooperative on Phythoterapy).
A Papoila-da-Califórnia é também utilizada em Homeopatia e em Terapia Floral (Florais da Holanda).

Este blogue apenas pretende sensibilizar para a observação das plantas medicinais e divulgar a sua utilização, não tendo a intenção de promover a auto-medicação nem a colheita de espécies.

domingo, 6 de março de 2011

Sabugueiro - Um pouco da sua história

Sabugueiro em flor, Est. da Papanata, Viana do Castelo (Abril 2007)

Muito pitoresco, o Sabugueiro é também uma das plantas medicinais mais antigas e apreciadas. A sua utilização remonta aos primórdios da Humanidade, como o comprovam as suas sementes encontradas em estações arqueológicas da Idade da Pedra localizadas na Suiça e Norte de Itália. Desde sempre muito popular, aparece associado a diferentes mitologias bem como a inúmeras lendas.

Do Sabugueiro quase tudo pode ser utilizado: a sua madeira é apreciada pelos artesãos; os seus ramos compridos e quebradiços, quase ocos, servem para fazer apitos e flautas, sendo também apropriados para acender fogueiras; as suas folhas esmagadas emanam um odor desagradável que pode ser aproveitado como repelente de moscas e lagartas num jardim biológico; as suas flores, com um agradável aroma a mel, são utilizadas na confecção de bebidas refrescantes, e também na conservação de maçãs, que se dispõem em camadas alternadas em caixas de cartão fechadas; os frutos, de cor negra a violácea e ricos em pigmentos (antocianósidos), são utilizados para a obtenção de corantes de uso alimentar (já foram usados para dar cor ao vinho e a outras bebidas), e com eles se preparam diversas receitas de compotas, geleias, gelatinas, bolinhos fritos, molho chutney, ..., sendo ainda comercializados na forma de sumo.

Medicinalmente, embora possam ser utilizadas quase todas as partes da planta - flores, frutos, folhas e cascas -, actualmente utilizam-se sobretudo as flores e, por vezes, os frutos. Muito acarinhado, o Sabugueiro foi já considerado uma verdadeira "botica de remédios", o que revela a excelência das suas propriedades terapêuticas.

Bagas de Sabugueiro, Est. da Papanata, Viana do Castelo (Julho 2007)


Um pouco da sua história
Com o nome botânico de Sambucus nigra L. subsp. nigra, o Sabugueiro é uma planta da família das Adoxaceae (Caprifoliaceae na classificação anterior), conhecido também pelos nomes vernáculos de Candelheiro, Canineiro, Galacrista, Rosa-de-bem-fazer, Rosa-de-bem-estar, Sabugo, Sabugueiro-negro, Sabugueiro-preto e Flor-de-sabugueiro.
Oriundo das regiões temperadas da Europa e Ásia onde se encontra amplamente disseminado, é ainda subspontâneo no Norte de África e Macaronésia (Açores e Madeira). Cresce em bosques, sebes, terrenos incultos, margens dos campos e dos cursos de água, tolerando diversos tipos de solos, poluição atmosférica e temperaturas mínimas até  -25 ºC. É também cultivado como planta ornamental e para obtenção dos seus frutos.
Considerado um arbusto, o Sabugueiro pode, no entanto, atingir o porte de uma pequena árvore (maior do que 5 metros de altura). Para tal, é importante estar plantado num bom terreno - a raiz é frágil e seca rapidamente num terreno árido - e, ser devidamente podado, cortando-lhe os ramos que partem da base de forma a ficar apenas um, que será o tronco.

Sabugueiro, Est. da Papanata, Viana do Castelo (Agosto 2007)

O nome Sambucus deriva provavelmente do grego, sambuke, que significa uma harpa com estrutura de madeira.
Considerado no passado uma das plantas mágicas mais poderosas, o Sabugueiro simbolizava a protecção, sendo por isso plantado próximo das povoações. Em diferentes mitologias europeias, surge-nos como a residência de diferentes deuses / deusas. Em sua honra ofereciam-se alimentos, dançava-se, mas também integrava rituais pagãos como o dia de S. João, ou até de cariz religioso como o Natal. Em qualquer das circunstâncias, o objectivo era agradar aos deuses e com isso obter protecção: protecção contra as tempestades, os ladrões, as discórdias entre os casais, os espíritos malignos ou os bruxedos. Cortá-lo era considerado um grave sacrilégio e, para evitar o pior, os lenhadores tinham que lhe pedir autorização recitando uma súplica em verso.
Por vezes, o Sabugueiro surge-nos associado à morte. A sua madeira era utilizada para fazer caixões que se colocavam na sepultura com cruzes e grinaldas feitos com os seus ramos, ou o próprio arbusto depois de aparado em forma de cruz era colocado sobre a sepultura. Existe também uma lenda que nos conta que era feita da sua madeira a cruz onde Cristo morreu, pois ao espremer o fruto do Sabugueiro obtém-se um sumo avermelhado.
Como planta ornamental popularizou-se a partir do séc. XVI.

A utilização medicinal do Sabugueiro remonta à Antiguidade Clássica tendo sido referido por Hipócrates (médico grego do séc. V a.C.) nos seus tratados de medicina. Frequentemente utilizado pelos Gregos e Romanos, era considerado um remédio eficaz, sendo também empregado para tingir os cabelos de preto.
No século XVII, o Sabugueiro foi mencionado com muita consideração por John Evelyn, escritor e jardineiro inglês. Foi ainda muito utilizado na peste pneumónica que se seguiu à guerra de 1914-18.

As flores de Sabugueiro encontram-se registadas como aromatizante natural de alimentos no Conselho Europeu.

Sabugueiro muito pitoresco
EN120 - Cercal do Alentejo / S. Luís (Maio 2006)