segunda-feira, 18 de abril de 2011

Papoila-da-Califórnia

Flores solitárias de Papoila-da-Califórnia
Jardim da Marginal, Viana do Castelo (Março 2011)

De cor viva alaranjada, amarela e até rosa, muito vistosas e ornamentais, quem repara nelas num jardim pode nem suspeitar do seu valor medicinal.
Da mesma família da Papoila-branca (Papoila-dormideira ou Papoila-do-ópio), Papaver somniferum L., a Papoila-da-Califórnia contém um látex que exerce uma acção sobre o sistema nervoso central bastante diferente: não produz um efeito narcótico nem aditivo, mas sim uma acção sedativa suave e regularizadora. Muito utilizada em fórmulas ou em simples, é considerada uma planta segura e eficaz, sendo uma opção adequada para as afecções físicas e psicológicas das crianças.

Pormenor das folhas recortadas de Papoila-da-Califórnia
Jardim da Marginal, Viana do Castelo (Março 2011)

Um pouco da sua história
A Papoila-da-Califórnia, também conhecida por Escholtzia, tem como nome botânico Eschscholzia californica Cham. (um nome dado a algumas confusões ortográficas!) e pertence à família das Papaveraceae. É espontânea no Oeste da América do Norte, nomeadamente no Estado da Califórnia como nos sugere o nome, onde cobre vastas extensões de amarelo na proximidade das florestas proporcionando uma bonita paisagem. Pelo facto de ser muito ornamental, é cultivada em várias regiões do mundo, nomeadamente na Europa, África do Sul, Austrália, Chile e Argentina. Em Portugal, surge com frequência nos jardins.

O seu nome foi-lhe atribuído no séc. XIX, em homenagem aos dois botânicos alemães que a classificaram após uma expedição à Califórnia: Johann Friedrich von Eschscholtz e Adelbert von Chamisso (Cham. é a abreviatura padrão do seu nome).

Medicinalmente, a Papoila-da-Califórnia começou por ser utilizada pelos índios norte-americanos, que a usavam pelas suas propriedades sedativas, e como analgésico para aliviar dores de dentes, dores de cabeça e cólicas gastrintestinais. As suas folhas cozidas eram ainda utilizadas na alimentação, e o seu pólen como cosmético.
Actualmente, continua a ser uma planta muito utilizada como sedativo e analgésico.

Papoila-da-Califórnia, Praça 1º de Maio, Viana do Castelo (Abril 2011)

Parte utilizada
Partes aéreas floridas.

Composição
Em fitoterapia, os efeitos terapêuticos de uma planta resultam da sinergia dos seus constituintes. No entanto, a investigação realça os alcalóides (californidina, sanguinarina) e os glicósidos de flavonóides (rutósido). São ainda de referir os ácidos orgânicos e corantes.

A planta fresca contém compostos cianogénicos.

Acções medicinais
Sedativa e ansiolítica. Hipnótica, induz o sono, diminuindo o seu tempo de latência, melhorando a sua qualidade e permitindo um acordar normal, não produzindo tolerância, dependência ou outros efeitos adversos como os barbitúricos de síntese. Relaxante. Antiespasmódica, analgésica e antinevrálgica.

Indicações terapêuticas
Ansiedade, agitação nervosa, hiperactividade das crianças. Emotividade, angústia, melancolia, depressão. Tensão nervosa, irritabilidade. Perturbações psicossomáticas associadas ao stress (dores musculares, hipertensão arterial, arritmias cardíacas). Neurastenia. Perturbações do sono (insónias, pesadelos). Enurese nocturna. Dores de cabeça, enxaquecas, dores e espasmos gastrintestinais das crianças. Nevralgias.

Como tomar
Infusão: 1 colher de chá por chávena de água fervente. Tomar 1 a 2 chávenas por dia.
Fazer tratamentos intercalados com períodos de descanso.
A Papoila-da-Califórnia é frequentemente associada a outras plantas sedativas (Valeriana, Hipericão, Passiflora, Erva-cidreira), potenciando os seus resultados.


Precauções
Planta segura nas doses habitualmente recomendadas, sem efeitos secundários ou risco de habituação.

Contra-indicada em pessoas com glaucoma, não deve igualmente ser utilizada durante a gravidez, aleitamento ou em crianças menores que 6 anos.
Não deve ser utilizada em simultâneo com benzodiazepinas ou anti-histamínicos. As bebidas alcoólicas devem ser evitadas durante o tratamento.
A posologia deve ser respeitada, doses elevadas podem ser causa de intoxicação.


Papoila-da-Califórnia, Odemira (Abril 2006)

Observações
A Papoila-da-Califórnia é uma importante planta utilizada em medicina popular e em fitoterapia; a sua acção ansiolítica e antiespasmódica foram já verificadas em animais; os estudos farmacológicos apoiam a sua utilização como sedativo e ansiolítico. No entanto, não existem estudos que comprovem, de forma evidente, a sua eficácia clínica. Por este motivo, a Comissão E (da German Federal Office for Phytotherapeutic Substance) não aprovou a sua utilização. Talvez também pelo mesmo motivo, a sua monografia não esteja inscrita na Farmacopeia Portuguesa, nem seja referida pela OMS (World Health Organization) e pela ESCOP (European Scientific Cooperative on Phythoterapy).
A Papoila-da-Califórnia é também utilizada em Homeopatia e em Terapia Floral (Florais da Holanda).

Este blogue apenas pretende sensibilizar para a observação das plantas medicinais e divulgar a sua utilização, não tendo a intenção de promover a auto-medicação nem a colheita de espécies.