Havia
uma flor!
Nem
eu sabiaonde é que a flor havia,
Mas tanto fazia.
Talvez
houvesse
onde
ninguém soubesseou fosse uma flor de estar a haver
só na minha imaginação,
ou não fosse uma flor, fosse uma canção.
Nem
a flor sabia
que
existia.Em qualquer sítio, sem saber, floria.
E se fosse uma canção cantava e não se ouvia.
E
isso acontecia
no
meu coração.Não sei se era uma flor se uma melodia,
era qualquer coisa que havia
e cantava e floria
dentro de mim sem razão.
Ia
pela rua e ninguém diria.
As
pessoas passavame eu dizia:
«Bom dia!»
e ninguém suspeitava
o bom dia que fazia
em qualquer sítio
que dentro de mim havia!
Só eu sabia e sorria,
levando-te pela mão.
3/7/1980
Poema de Manuel António Pina, em O Têpluquê e Outras Histórias, Assírio
& Alvim, Novembro 2006
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