domingo, 6 de março de 2011

Sabugueiro - Um pouco da sua história

Sabugueiro em flor, Est. da Papanata, Viana do Castelo (Abril 2007)

Muito pitoresco, o Sabugueiro é também uma das plantas medicinais mais antigas e apreciadas. A sua utilização remonta aos primórdios da Humanidade, como o comprovam as suas sementes encontradas em estações arqueológicas da Idade da Pedra localizadas na Suiça e Norte de Itália. Desde sempre muito popular, aparece associado a diferentes mitologias bem como a inúmeras lendas.

Do Sabugueiro quase tudo pode ser utilizado: a sua madeira é apreciada pelos artesãos; os seus ramos compridos e quebradiços, quase ocos, servem para fazer apitos e flautas, sendo também apropriados para acender fogueiras; as suas folhas esmagadas emanam um odor desagradável que pode ser aproveitado como repelente de moscas e lagartas num jardim biológico; as suas flores, com um agradável aroma a mel, são utilizadas na confecção de bebidas refrescantes, e também na conservação de maçãs, que se dispõem em camadas alternadas em caixas de cartão fechadas; os frutos, de cor negra a violácea e ricos em pigmentos (antocianósidos), são utilizados para a obtenção de corantes de uso alimentar (já foram usados para dar cor ao vinho e a outras bebidas), e com eles se preparam diversas receitas de compotas, geleias, gelatinas, bolinhos fritos, molho chutney, ..., sendo ainda comercializados na forma de sumo.

Medicinalmente, embora possam ser utilizadas quase todas as partes da planta - flores, frutos, folhas e cascas -, actualmente utilizam-se sobretudo as flores e, por vezes, os frutos. Muito acarinhado, o Sabugueiro foi já considerado uma verdadeira "botica de remédios", o que revela a excelência das suas propriedades terapêuticas.

Bagas de Sabugueiro, Est. da Papanata, Viana do Castelo (Julho 2007)


Um pouco da sua história
Com o nome botânico de Sambucus nigra L. subsp. nigra, o Sabugueiro é uma planta da família das Adoxaceae (Caprifoliaceae na classificação anterior), conhecido também pelos nomes vernáculos de Candelheiro, Canineiro, Galacrista, Rosa-de-bem-fazer, Rosa-de-bem-estar, Sabugo, Sabugueiro-negro, Sabugueiro-preto e Flor-de-sabugueiro.
Oriundo das regiões temperadas da Europa e Ásia onde se encontra amplamente disseminado, é ainda subspontâneo no Norte de África e Macaronésia (Açores e Madeira). Cresce em bosques, sebes, terrenos incultos, margens dos campos e dos cursos de água, tolerando diversos tipos de solos, poluição atmosférica e temperaturas mínimas até  -25 ºC. É também cultivado como planta ornamental e para obtenção dos seus frutos.
Considerado um arbusto, o Sabugueiro pode, no entanto, atingir o porte de uma pequena árvore (maior do que 5 metros de altura). Para tal, é importante estar plantado num bom terreno - a raiz é frágil e seca rapidamente num terreno árido - e, ser devidamente podado, cortando-lhe os ramos que partem da base de forma a ficar apenas um, que será o tronco.

Sabugueiro, Est. da Papanata, Viana do Castelo (Agosto 2007)

O nome Sambucus deriva provavelmente do grego, sambuke, que significa uma harpa com estrutura de madeira.
Considerado no passado uma das plantas mágicas mais poderosas, o Sabugueiro simbolizava a protecção, sendo por isso plantado próximo das povoações. Em diferentes mitologias europeias, surge-nos como a residência de diferentes deuses / deusas. Em sua honra ofereciam-se alimentos, dançava-se, mas também integrava rituais pagãos como o dia de S. João, ou até de cariz religioso como o Natal. Em qualquer das circunstâncias, o objectivo era agradar aos deuses e com isso obter protecção: protecção contra as tempestades, os ladrões, as discórdias entre os casais, os espíritos malignos ou os bruxedos. Cortá-lo era considerado um grave sacrilégio e, para evitar o pior, os lenhadores tinham que lhe pedir autorização recitando uma súplica em verso.
Por vezes, o Sabugueiro surge-nos associado à morte. A sua madeira era utilizada para fazer caixões que se colocavam na sepultura com cruzes e grinaldas feitos com os seus ramos, ou o próprio arbusto depois de aparado em forma de cruz era colocado sobre a sepultura. Existe também uma lenda que nos conta que era feita da sua madeira a cruz onde Cristo morreu, pois ao espremer o fruto do Sabugueiro obtém-se um sumo avermelhado.
Como planta ornamental popularizou-se a partir do séc. XVI.

A utilização medicinal do Sabugueiro remonta à Antiguidade Clássica tendo sido referido por Hipócrates (médico grego do séc. V a.C.) nos seus tratados de medicina. Frequentemente utilizado pelos Gregos e Romanos, era considerado um remédio eficaz, sendo também empregado para tingir os cabelos de preto.
No século XVII, o Sabugueiro foi mencionado com muita consideração por John Evelyn, escritor e jardineiro inglês. Foi ainda muito utilizado na peste pneumónica que se seguiu à guerra de 1914-18.

As flores de Sabugueiro encontram-se registadas como aromatizante natural de alimentos no Conselho Europeu.

Sabugueiro muito pitoresco
EN120 - Cercal do Alentejo / S. Luís (Maio 2006)


Sabugueiro - Utilização medicinal das flores

Pormenor das flores de Sabugueiro em forma de corimbo (inflorescências corimbosas)
Est. da Papanata, Viana do Castelo (Abril 2007)

Parte utilizada
Flores secas, de preferência separadas dos pedúnculos e pedicelos.

Composição
Em fitoterapia, os efeitos terapêuticos de uma planta resultam da sinergia dos seus constituintes. No entanto, a investigação realça os flavonóides (isoquercitrina, quercetrina, rutina, hiperósido), os ácidos fenólicos (cafeico, clorogénico, p-cumárico) e os fitosteróis. São ainda de referir o óleo essencial, as mucilagens, os antocianósidos, os ácidos triterpénicos e os sais potássicos.

Acções medicinais
Uso interno
Expectorante, fluidificando as secreções das vias respiratórias e favorecendo a sua expulsão. Anticatarral, diminuido as secreções das mucosas inflamadas. Anti-inflamatória e antiviral. Sudorífica, aumentando a transpiração e favorecendo a eliminação de toxinas. Diurética. Adstringente suave e venotónica, contrai os capilares e melhora a tonicidade das paredes venosas. Galactagoga, aumenta a secreção láctea nas mulheres que amamentam.
Uso externo
Anti-inflamatória, adstringente e venotónica. Rejuvenesce a pele e revitaliza os cabelos, restaurando-lhes a elasticidade e o brilho.

Indicações terapêuticas
Uso interno

Inflamações das vias respiratórias como constipação, amigdalite, tosse e bronquite, diminuindo a inflamação e favorecendo a expectoração. Rinite alérgica, febre dos fenos e sinusite, secando as membranas mucosas do nariz e garganta e reduzindo os espirros e o pingo no nariz. Inflamações no ouvido médio. Gripes e estados febris ligeiros, aliviando os sintomas e combatendo a infecção. Sarampo e varíola (afecções febris de etiologia viral). Como diurético no reumatismo e gota. Fragilidade capilar e hemorróidas. Para aumentar a secreção do leite materno.
Em medicina popular é também utilizado nas afecções pulmonares, arteriosclerose e como depurativo geral do organismo.
Uso externo
Estomatites e faringites. Afecções da pele como acne, eczema, psoríase. Pele inflamada, pele gretada. Feridas e queimaduras. Olhos doridos e inflamados, conjuntivites. Flebite aguda e hemorróidas. Para limpar e rejuvenescer a pele e para restaurar a elasticidade e o brilho aos cabelos.


As flores de Sabugueiro são um remédio seguro e eficaz
nas afecções ORL (ouvidos, nariz e garganta)
Est. da Papanata, Viana do Castelo (Abril 2007) 

Como tomar
Uso interno

Infusão: 1 colher de sobremesa por chávena de água fervente, 5 minutos de infusão. Tomar 2 a 3 vezes por dia.
Nas afecções das vias respiratórias adoçar a infusão com mel.
Nas afecções febris, a infusão deve ser tomada bem quente e o doente deve estar bem agasalhado de modo a potenciar a acção sudorífica da planta.
O xarope das flores também se utiliza nas afecções das vias respiratórias (tosses, gripes, ...), sendo de realçar o Xarope Beirão das Flores de Sabugo, de origem popular, e com fama de muito bons resultados nas crianças.
O vinho medicinal das flores também se usa embora terapeuticamente seja menos eficaz.

Uso externo
Infusão: 80 gramas por litro de água. Em banhos, lavagens, compressas, bochechos, gargarejos.

Precauções
Não são conhecidas contra-indicações, efeitos secundários ou toxicidade das flores de Sabugueiro nas doses habitualmente utilizadas.


Observações
A Farmacopeia Portuguesa 9 (2008, Ed. Infarmed), inscreve a monografia de flores secas de Sambucus nigra L. São ainda de referir as suas monografias da OMS (World Health Organization) e Comissão E Alemã (da German Federal Office for Phytotherapeutic Substance).


Este blogue apenas pretende sensibilizar para a observação das plantas medicinais e divulgar a sua utilização, não tendo a intenção de promover a auto-medicação nem a colheita de espécies.

Sabugueiro em final de floração
Est. da Papanata, Viana do Castelo (Maio 2007)

Sabugueiro - Utilização medicinal dos frutos


Pormenor das bagas maduras de Sabugueiro
Est. da Papanata, Viana do Castelo (Julho 2007)

Parte utilizada
Frutos maduros (bagas).

Composição
Antocianósidos, flavonóides (rutina), ácidos orgânicos (cítrico, málico), taninos, hidratos de carbono, vestígios de óleo essencial. Heterósidos cianogénicos (ácido cianídrico). Riqueza em vitaminas (A e C) e minerais.


Acções medicinais
Antioxidante, combate os efeitos nocivos dos radicais livres. Melhora a resistência às infecções. Sudorífica, aumenta a transpiração e favorece a eliminação das toxinas. Diurética. Laxativa (doses médias) e purgativa (doses elevadas).

Indicações terapêuticas
Uso interno
Constipações, inflamações da garganta, tosse, gripes e estados febris ligeiros, combatendo a infecção e acelerando a recuperação. Reumatismo. Como laxante.
Uso externo
Inflamações e úlceras na pele e mucosa oro-faríngea.
Em medicina popular, os frutos também são utilizados externamente na dor, edema e inflamação reumatismal.


Pormenor das bagas ainda verdes de Sabugueiro
Est. da Papanata, Viana do Castelo (Junho 2007)

Como tomar
Na forma de cozimento, xarope e sumo. As bagas dão ainda um excelente vinho medicinal.

Precauções
As bagas, sobretudo quando não estão suficientemente maduras, podem ser causa de intoxicação, originando perturbações gastrintestinais como náuseas, vómitos e diarreia (devido ao ácido cianídrico). Para o evitar, é conveniente dar-lhes uma cozedura antes de serem ingeridas.

Este blogue apenas pretende sensibilizar para a observação das plantas medicinais e divulgar a sua utilização, não tendo a intenção de promover a auto-medicação nem a colheita de espécies.

Sabugueiro - Utilização medicinal das cascas

Pormenor do tronco de Sabugueiro
EN120 - Cercal do Alentejo / S. Luís (Maio 2006)

Parte utilizada
Cascas (entrecasca, a segunda casca).

Composição
Taninos, flavonóides, ácidos fenólicos e triterpénicos, heterósidos cianogénicos (ácido cianídrico).


Acções medicinais
Diurética. Adstringente, hemostática local e cicatrizante. Purgativa.


Indicações terapêuticas
Como diurético na oligúria e litíase renal. Como purgante.


Como tomar
Cozimento das cascas.

Precauções
Devido à presença de heterósidos cianogénicos (que libertam ácido cianídrico), as cascas são potencialmente tóxicas, pelo que se desaconselha a sua utilização sem o acompanhamento de um profissional.

Observações
É de referir que a primeira casca também apresenta valor terapêutico (resolutiva, favorecendo a resolução das tumefacções e inflamações dos tecidos).

Este blogue apenas pretende sensibilizar para a observação das plantas medicinais e divulgar a sua utilização, não tendo a intenção de promover a auto-medicação nem a colheita de espécies.

Sabugueiro - Utilização medicinal das folhas

Pormenor das folhas de Sabugueiro
Est. da Papanata, Viana do Castelo (Abril 2007)

Parte utilizada
Folhas.

Composição
Heterósidos cianogénicos (ácido cianídrico), taninos, resinas, gorduras, ácidos gordos.

Acções medicinais
Resolutiva em uso externo, favorece a resolução das tumefacções e inflamações dos tecidos.

Indicações terapêuticas
Em medicina popular, internamente na constipação e gripe e em uso externo nos abcessos e inflamações da pele.


Como tomar
Internamente a maceração das folhas e a cataplasma das folhas frescas pisadas em uso externo.

Precauções
Devido à presença de heterósidos cianogénicos (que libertam ácido cianídrico), as folhas são potencialmente tóxicas, pelo que se desaconselha a sua utilização sem o acompanhamento de um profissional.

Este blogue apenas pretende sensibilizar para a observação das plantas medicinais e divulgar a sua utilização, não tendo a intenção de promover a auto-medicação nem a colheita de espécies.