Ginkgo biloba, Jardim da Marginal, Viana do Castelo (Setembro 2010)
Quando um dia me perguntaram se eu já tinha visto a Ginkgo biloba de Viana do Castelo fiquei surpreendida. Desconhecia a sua existência... De facto, o meu olhar atento ainda não se tinha cruzado com ela, talvez por me encontrar nesta cidade há pouco tempo. Irresistível, procurei-a. É impossível não ficar fascinada perante uma espécie considerada como um fóssil vivo, cuja existência na Terra remonta aos 300 milhões de anos e que terá sido contemporânea dos Dinossauros!
Um pouco da sua história
Também referida como Gincgo, Nogueira-do-Japão ou Árvore-cabelos-de-Vénus, a Ginkgo biloba L. é a única espécie sobrevivente do género Ginkgo, família das Ginkgoaceae, sendo considerada a mais antiga espécie actualmente existente no planeta. A sua longevidade pode atingir o milhar de anos.
Originária da China, Japão e Coreia existiu na Europa Central até há 30 milhões de anos tendo retrocedido até ao Sudeste Asiático durante a Era Glaciar. Por volta do ano 1100 d.C. os monges budistas reconheceram o seu valor medicinal e ornamental, e a Ginkgo permaneceu nos seus templos, sendo considerada uma árvore sagrada no Oriente. Refira-se que, para além do seu porte que chega, quando adulta, aos 40 metros de altura e cerca de 4 metros de perímetro do tronco, a sua a folhagem adquire uma tonalidade dourada de grande beleza no Outono.
Julgada extinta, a Ginkgo foi redescoberta no Japão em 1691. Foi descrita pela primeira vez em 1712 pelo médico e botânico alemão Engelbert Kaempfer que aí se encontrava ao serviço da Companhia Holandesa das Índias Orientais (1690-91). Devido a um erro ortográfico alterou o seu nome original, Ginkyo, que em japonês significa Alperce-de-prata. Em 1771, Lineu utiliza o nome Ginkgo para designar o género e o termo biloba, numa alusão à forma característica das suas folhas, com dois lobos, para designar a espécie.
Muito provavelmente foi também Engelbert Kaempfer que em 1750 trouxe de novo a Ginkgo para a Europa, onde foi muito bem acolhida pois estava muito em voga uma concepção exótica dos jardins. O primeiro exemplar foi semeado no Jardim Botânico de Utrecht (Holanda) e ainda hoje pode ser observado. Por volta do ano 1800 estava já aclimatada em toda a Europa. Em 1815, no seu ciclo de poemas Divã Ocidental-Oriental Goethe imortalizou-a ao escrever um poema sobre a unidade-dualidade, simbolizada na sua folha bilobada.
Pormenor da folha em leque de Ginkgo biloba
Jardim da Marginal, Viana do Castelo (Setembro 2010)
Foi um broto de uma árvore de Ginkgo o primeiro sinal de vida após a explosão da bomba atómica na cidade de Hiroshima a 6 de Agosto de 1945. Toda a flora e fauna da cidade fora destruída e, na Primavera do ano seguinte, rebentou uma nova planta que cresceu e se desenvolveu com todas as caraterísticas habituais para a sua espécie. Esta enorme robustez e resistência é uma das suas características, sendo considerada como Fonte de Juventude.
A Ginkgo não é susceptível a doenças, sendo resistente a pragas de insectos e outros microrganismos danosos, bem como à poluição ambiental das grandes cidades actuais. Por este facto e, pela sua beleza ornamental, tem sido cada vez mais plantada um pouco por todo o mundo, em jardins e ao longo das ruas de tráfego intenso, em grandes cidades como Nova Iorque e Tóquio, e mesmo em Lisboa e Porto.
Esta sua crescente procura tem levantado uma questão. A Ginkgo apresenta árvores masculinas e árvores femininas e sua polinização é feita pelo vento, ou seja, é necessário que o vento transporte o pólen de uma árvore masculina para uma árvore feminina nas proximidades para que esta última produza os frutos. Acontece que os frutos da Ginkgo, quando maduros, emanam um odor desagradável e as árvores femininas têm sido preteridas em função das masculinas. A sua reprodução é então assegurada em viveiro, quase sempre de forma assexuada, de que resultam novas árvores que são clones. Isto provoca, inevitavelmente, um empobrecimento do património genético da espécie...
A Ginkgo faz parte do milenar arsenal terapêutico da Medicina Tradicional Chinesa, sendo mencionada desde o ano 2800 a.C. Segundo os livros antigos, os Pents'ao, era utilizada para aumentar a longevidade, como tónico para o coração e pulmões, na asma, para melhorar a performance sexual e no tratamento de feridas. Era uma planta de tal forma prestigiada que as suas folhas chegaram a ser moeda de troca. No Ocidente, foi apenas na década de 1960 que foi descoberta por investigadores alemães pela sua acção vasodilatadora. Desde então tem sido alvo de inúmeros estudos científicos.