quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Ginkgo - Um pouco da sua história

Ginkgo biloba, Jardim da Marginal, Viana do Castelo (Setembro 2010)

Quando um dia me perguntaram se eu já tinha visto a Ginkgo biloba de Viana do Castelo fiquei surpreendida. Desconhecia a sua existência... De facto, o meu olhar atento ainda não se tinha cruzado com ela, talvez por me encontrar nesta cidade há pouco tempo. Irresistível, procurei-a. É impossível não ficar fascinada perante uma espécie considerada como um fóssil vivo, cuja existência na Terra remonta aos 300 milhões de anos e que terá sido contemporânea dos Dinossauros!


Um pouco da sua história
Também referida como Gincgo, Nogueira-do-Japão ou Árvore-cabelos-de-Vénus, a Ginkgo biloba L. é a única espécie sobrevivente do género Ginkgo, família das Ginkgoaceae, sendo considerada a mais antiga espécie actualmente existente no planeta. A sua longevidade pode atingir o milhar de anos.

Originária da China, Japão e Coreia existiu na Europa Central até há 30 milhões de anos tendo retrocedido até ao Sudeste Asiático durante a Era Glaciar. Por volta do ano 1100 d.C. os monges budistas reconheceram o seu valor medicinal e ornamental, e a Ginkgo permaneceu nos seus templos, sendo  considerada uma árvore sagrada no Oriente. Refira-se que, para além do seu porte que chega, quando adulta, aos 40 metros de altura e cerca de 4 metros de perímetro do tronco, a sua a folhagem adquire uma tonalidade dourada de grande beleza no Outono.

Julgada extinta, a Ginkgo foi redescoberta no Japão em 1691. Foi descrita pela primeira vez em 1712 pelo médico e botânico alemão Engelbert Kaempfer que aí se encontrava ao serviço da Companhia Holandesa das Índias Orientais (1690-91). Devido a um erro ortográfico alterou o seu nome original, Ginkyo, que em japonês significa Alperce-de-prata. Em 1771, Lineu utiliza o nome Ginkgo para designar o género e o termo biloba, numa alusão à forma característica das suas folhas, com dois lobos, para designar a espécie.

Muito provavelmente foi também Engelbert Kaempfer que em 1750 trouxe de novo a Ginkgo para a Europa, onde foi muito bem acolhida pois estava muito em voga uma concepção exótica dos jardins. O primeiro exemplar foi semeado no Jardim Botânico de Utrecht (Holanda) e ainda hoje pode ser observado. Por volta do ano 1800 estava já aclimatada em toda a Europa. Em 1815, no seu ciclo de poemas Divã Ocidental-Oriental Goethe imortalizou-a ao escrever um poema sobre a unidade-dualidade, simbolizada na sua folha bilobada.


Pormenor da folha em leque de Ginkgo biloba
Jardim da Marginal, Viana do Castelo (Setembro 2010)


Foi um broto de uma árvore de Ginkgo o primeiro sinal de vida após a explosão da bomba atómica na cidade de Hiroshima a 6 de Agosto de 1945. Toda a flora e fauna da cidade fora destruída e, na Primavera do ano seguinte, rebentou uma nova planta que cresceu e se desenvolveu com todas as caraterísticas habituais para a sua espécie. Esta enorme robustez e resistência é uma das suas características, sendo considerada como Fonte de Juventude.

A Ginkgo não é susceptível a doenças, sendo resistente a pragas de insectos e outros microrganismos danosos, bem como à poluição ambiental das grandes cidades actuais. Por este facto e, pela sua beleza ornamental, tem sido cada vez mais plantada um pouco por todo o mundo, em jardins e ao longo das ruas de tráfego intenso, em grandes cidades como Nova Iorque e Tóquio, e mesmo em Lisboa e Porto.

Esta sua crescente procura tem levantado uma questão. A Ginkgo apresenta árvores masculinas e árvores femininas e sua polinização é feita pelo vento, ou seja, é necessário que o vento transporte o pólen de uma árvore masculina para uma árvore feminina nas proximidades para que esta última produza os frutos. Acontece que os frutos da Ginkgo, quando maduros, emanam um odor desagradável e as árvores femininas têm sido preteridas em função das masculinas. A sua reprodução é então assegurada em viveiro, quase sempre de forma assexuada, de que resultam novas árvores que são clones. Isto provoca, inevitavelmente, um empobrecimento do património genético da espécie...

A Ginkgo faz parte do milenar arsenal terapêutico da Medicina Tradicional Chinesa, sendo mencionada desde o ano 2800 a.C. Segundo os livros antigos, os Pents'ao, era utilizada para aumentar a longevidade, como tónico para o coração e pulmões, na asma, para melhorar a performance sexual e no tratamento de feridas. Era uma planta de tal forma prestigiada que as suas folhas chegaram a ser moeda de troca. No Ocidente, foi apenas na década de 1960 que foi descoberta por investigadores alemães pela sua acção vasodilatadora. Desde então tem sido alvo de inúmeros estudos científicos.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Ginkgo - Utilização medicinal

Pormenor do tronco de Ginkgo biloba
Jardim da Marginal, Viana do Castelo (Setembro 2010)




Parte utilizada
Folhas.

Composição
Em fitoterapia, os efeitos terapêuticos de uma planta resultam da sinergia dos seus constituintes. No entanto, a investigação realça os flavonóides (ginkgoflavonoglicósidos, quercetina, derivados da rutina), as lactonas terpénicas (ginkgólidos, bilobalido) e as proantocianidinas.

Acções medicinais
Vasodilatadora cerebral e periférica, aumenta a circulação sanguínea e a oxigenação dos tecidos. Aumenta a resistência e diminui a permeabilidade dos vasos sanguíneos. Antioxidante, complexa radicais livres nocivos e previne a peroxidação lipídica. Inibe o factor de activação das plaquetas (PAF), interferindo positivamente em diversos processos fisiológicos como a agregação das plaquetas e a formação de trombos, a inflamação e a alergia. Protege o tecido nervoso e evita a perda de memória e das funções cognitivas. Reduz o edema e as lesões na retina.
Uso externo

Vasodilatadora periférica, aumenta a circulação sanguínea e a oxigenação dos tecidos, atuando ainda ao nível da microcirculação. Aumenta a resistência e diminui a permeabilidade dos capilares. Previne a peroxidação lipídica causada pelos radicais livres, evitando o envelhecimento da pele e a formação de rugas.

Indicações terapêuticas
Melhorar a memória, a concentração e a capacidade de aprendizagem.
Insuficiência circulatória cerebral (perda de memória, dificuldades de concentração, ansiedade, depressão, tonturas, vertigens, zumbidos nos ouvidos, dores de cabeça, enxaquecas). Demência senil e doença de Alzheimer. Doença de Parkinson, esclerose múltipla, surdez neuro-sensorial. Sequelas de AVC. Insuficiência circulatória periférica, claudicação intermitente, complicações vasculares da diabetes mellitus, doença oclusiva arterial periférica, doença de Raynaud. Prevenção da arteriosclerose e da formação de trombos, cardiopatias isquémicas. Hipertensão arterial. Impotência. Asma. Glaucoma.
Uso externo

Peles sensíveis e envelhecidas. Caspa. Celulite.

Como tomar
Infusão: 1 colher de sobremesa por chávena de água fervente. Tomar 2 chávenas por dia, após as refeições. Fazer tratamentos de 6 a 8 semanas seguidas de 4 semanas de descanso.

Precauções
Doses elevadas podem provocar dores de cabeça, transtornos gastrintestinais ligeiros, reacções alérgicas da pele.
Contra-indicada na gravidez e aleitamento.
Pode interagir com antiagregantes plaquetários.
Os frutos, por contacto ou ingestão, podem provocar reacções alérgicas.
 
Observações
Apesar de, tradicionalmente, não ter utilização medicinal em Portugal, a Farmacopeia Portuguesa 9 (2008, Ed. Infarmed), inscreve a monografia de folha seca, inteira ou fragmentada, de Ginkgo biloba L. São ainda de referir as suas monografias da OMS (World Health Organization), ESCOP (European Scientific Cooperative on Phythoterapy) e Comissão E Alemã (da German Federal Office for Phytotherapeutic Substance), para só citar algumas.

Este blogue apenas pretende sensibilizar para a observação das plantas medicinais e divulgar a sua utilização, não tendo a intenção de promover a auto-medicação nem a colheita de espécies.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A Minha Botica


Botica: Designação em desuso de um local onde se fazem remédios.
Antes do advento da indústria farmacêutica os remédios eram feitos sobretudo com as plantas. O boticário sabia indicar e preparar para cada situação a erva ou a mistura de ervas mais indicada. Este saber não se perdeu no tempo, antes se perpetuou de geração em geração, não só através de uma sabedoria popular como também de um conhecimento académico.
Actualmente, as plantas medicinais são cada vez mais procuradas, qual elo que nos enraíza num mundo cada vez mais em constante mudança. De tal forma, que algumas se encontam em risco de extinção... Partilhamos com elas uma longa História na Terra, uma mesma biologia.
Um dia, alguém excitadíssimo num passeio pedestre, me questionava: "Mas, onde é que estão as plantas medicinais?". Elas estão em todo o lado, nós as saibamos ver e... apreciar.
Esta é pois a minha botica, uma porta aberta para o mundo que me rodeia.